Nota: O texto que se segue não visa elevar a condição humana de se ser português a um patamar superior às outras nacionalidades; pretende, sim, demonstrar, que com as suas características cognitivas, os portugueses estão mais bem adaptados para promover o despertar da restante humanidade para o essencial da Vida.
O QUINTO IMPÉRIO: UM IMPÉRIO INICIÁTICO EM REDE
Vem dos tempos bíblicos a primeira alusão a este “Império”, quando o profeta Daniel interpreta um sonho do rei Nabucodonosor e lhe comunica a sua interpretação, como nos escreveu o padre António Vieira no seu livro “História do Futuro” (veja-se a força do ‘desígnio’ português com que ele pretende inscrever a “missão” de Portugal num contexto de futuro ao dar-lhe semelhante título…).
E veja-se a cumplicidade da GLUP ao assumir que “o futuro é agora!”
É claro que passados quase quatro séculos sobre esta obra, somos obrigados a contextualizá-la e tirar daí algumas ilações. Interessava, na época deste jesuíta português, que a ‘ideia’ de “Quinto Império” fosse uma forma de legitimar o movimento autonomista português, que conseguira o fim da União Ibérica, leia-se domínio dos Filipes…(Sobre este momento complicado na história do nosso país irei dar-lhes a ler, numa próxima oportunidade, um texto que escrevi inspirado naquilo que podemos chamar – e demonstrar – de “A mentira patriótica”)
Mas voltando a Daniel e à Bíblia, explica este ao monarca que é possível ‘ler-se’ no sonho a destruição de todos os quatro impérios que o precederam, ou seja, o assírio, persa, grego e romano, sendo a cada um deles atribuído uma fração do corpo humano que o rei viu aparecer no seu sonho e onde eles estão simbolicamente representados, desde a cabeça aos pés.
Como na descrição é dito que são derrubados por algo vindo do espaço e os seus fragmentos dispersados sobre a superfície da Terra, Daniel intui que é esse adubo, feito das reminiscências imperiais agora destruídas, que vai contribuir para o solo ideal onde vai nascer e florir um novo império, denominado cronologicamente à época por Quinto Império, ou seja, o Império de Deus.
Curiosamente Fernando Pessoa nomeou quatros impérios diferentes dos de Vieira e adjectivou-os, iniciáticamente, como sendo um “imperialismo andrógino”: são eles o grego, o romano, o cristão e o europeu.
O que interessa reter em qualquer das interpretações é que o Quinto Império aspira a ser um império espiritual; mas andrógino porquê?
Humildemente, ao pôr-me na sua erudita sagacidade, acredito que o fez porque o andrógino representava, na filosofia grega, um ser circular, que era, simultaneamente, masculino e feminino, e por isso simbolizava a unidade e a perfeição.
Assim, o Quinto Império constituirá uma hipótese de transformação e de purificação da Humanidade, que conduzirá a uma relação harmoniosa entre o Homem e as coisas, entre o Homem e Deus, acabando com a ilusão da separação.
Para os que não sabem, fica aqui dito que foi por isso que em 2013, no Palácio do Egipto em Oeiras, intitulei a minha exposição de pintura de “Oroboro”, cujo simbolismo alquímico, presente milenarmente em diversas culturas, é o da cobra (ou dragão) que morde a própria cauda, um ser circular…e ainda mais com a característica de ser um palíndromo, uma capicua se quiserem, permitindo que a sua leitura se faça quer num sentido quer noutro, ou seja, de trás para a frente e vice-versa. Adiante…
Intui-se então que o Quinto Império permitirá ao Homem alcançar um grau de perfeição máxima, permitindo-lhe entrar em comunhão com o divino, tendo acesso ao conhecimento, ou melhor, à sabedoria, digo eu, implantando a paz e a fraternidade no mundo, criando uma imagem especular, diáfana, do éden primordial, perdido, e que agora tem de ser recuperado.
Somos nós, Maçons, os mais bem preparados para o fazer; e por fazermos parte da G.L.U.P., os mais vocacionados para isso.
Os poetas e filósofos que ‘sentem’ a nossa missão enquanto portugueses, deixaram-nos registos teóricos das suas certezas apontando para a inevitabilidade de todos sermos protagonistas de um glorioso destino trans-patriótico e universalista; mas é sobretudo Pessoa, como é hábito, que põe o dedo na ferida; e fá-lo ou para estancar a hemorragia ou para denunciá-la.
E acreditem no que vos digo, Meus Queridos Irmãos: mesmo sem o saber, estamos todos feridos…
Evocando a metáfora do caminho da serpente escutemos, pois, com atenção, o que ele nos diz:
“Todos os caminhos no mundo e na lei são rectilíneos; o caminho da Serpente é a evasão dos caminhos, porque é, substancial e potencialmente, a Evasão Abstracta, o reconhecimento da verdade essencial, que pode exprimir-se, poeticamente, na frase de que Deus é o cadáver de si mesmo; a descoberta do Triângulo Místico em que os três vértices são o mesmo ponto, o segredo da Trindade e do Deus Vivo, que, em certo modo, é o Homem Morto em e através de Deus Morto”.
Interpreto que o Triângulo Místico aqui aludido é o fim da Trindade enquanto dogma, pois ao unir os seus vértices num só ponto, o triângulo deixa de existir, como é óbvio, mas o seu significado não desaparece.
Ao tornar-se uno, acaba com a ilusão da separação, juntando corpo, alma e espirito num só ponto.
E se este triângulo for maçónico, construído segundo a Razão Dourada, o conceito de tempo desaparece, confirmando que é no ponto em que nos encontramos, ou seja, no Agora, a hora com que termina a “Mensagem” e que nos une ao Deus Vivo, renascidos do Homem Morto.
Interiorizemos então a frase de Agostinho da Silva em epígrafe no Boletim nº1, aceitando que a nossa missão de hoje vai mesmo repercutir-se no futuro; mas para isso tem de ser mais do que teoria ou divinação patriótica: tem que ser executada no presente!
Não há fórmulas mágicas para derrotar a maioria das ideias dos mais de 7 mil milhões de humanos que enxameiam a Terra, grande parte delas mais confrontadas com a luta com o Ter do que com o Ser.
Tenham sempre bem presente que somos uma Ordem Iniciática e, portanto, o nosso método não se compara nem ao dos cientistas testando fórmulas em laboratório, nem ao dos físicos teóricos especulando sobre a origem dos buracos negros.
A nossa actuação não é no domínio do Conhecimento, cientifico ou politico, embora podendo nele estar alicerçado, mas sim na da Sabedoria Iniciática, como já foi dito.
Interiorizemos que não somos uma instituição de caridade – essa há-as por aí sem que se passe pela morte profana para lá chegar, como o fizemos. A nossa actuação vai para além disso, temos algo mais a dar!
Mas estamos superiormente preparados para as integrar se for esse o nosso desejo, o que é completamente diferente. Lembrem-se que o caminho do Maçon é solitário, pessoal, mas sobretudo solidário!
E agora vem o mais importante: o “nosso” Quinto Império não é um império nos moldes do Império Romano, onde se exercia um controlo administrativo de territórios.
O que propomos é uma marca civilizacional do tipo da fenícia ou da grega, no passado, e que agora, no presente, se podia chamar, ‘império em rede’.
E somos nós, cada um de nós, que vai actuar como a vacina do Pasteur fez individualmente em cada tratamento, mas desta vez não é preciso injectar nenhum produto para dentro do organismo, pois trabalhamos ao nível energético com o foco de alcançarmos o que os egípcios já chamavam de ‘Ka’, um sinónimo de Alma.
E é em nós que começamos o trabalho, ao meio-dia se estivermos no nosso Templo e como rezam os princípios maçónicos, ou a qualquer hora, como se pretende quando estamos no mundo profano, porto de destino final na contínua soma das nossas singraduras iniciáticas, e que mais não são do que o aproveitamento operacional das sessões de Loja em que participamos, regularmente e em regularidade!
O Ka, como a Alma, pode então ser definido como um princípio ou elemento metafísico, imaterial, invisível, volátil e, de certa forma, metafórico, que permite assegurar a sobrevivência dos homens neste mundo, e conferir-lhes a vida eterna no outro, uma energia mística que pode ser utilizada para fins que vão além da compreensão humana.
Isto é tudo muito bonito de perceber num contexto de dualidade cósmica, mas eu acrescento: não há este mundo e o outro, mas tão somente um único mundo que abarca outros mundos. É aqui que reside toda a diferença e, como na prática do Ioga, temos que nos afastar mentalmente do nosso corpo para o conseguir ver de fora, ou seja, não olhem para o umbigo das vossas certezas sem as lentes da dúvida, porque pode acontecer que o que haja sejam vários graus de espiritualidade subtilizando-se até chegar a um Ente Supremo!
Esse será o Grande Arquitecto do Universo num só Universo, uno e comum a todos os outros possíveis mundos.
Vejamos qual a opinião de Pessoa sobre isto:
Por estas razões, e ainda outras, a Ordem externa do Ocultismo, ou seja, a Maçonaria, evita (excepto a maçonaria anglo-saxónica) a expressão “Deus”, dadas as suas implicações teológicas e populares, e prefere dizer “Grande Arquitecto do Universo”, expressão que deixa em branco o problema de se Ele é Criador, ou simples Governador, do mundo.
Remata dizendo: “Dadas essas escalas de seres, não creio na comunicação directa com Deus, mas, segundo a nossa afinação espiritual, poderemos ir comunicando com seres cada vez mais altos.”
Meus Queridos Irmãos: é para nos “afinarmos” com o Grande Arquiteto do Universo que nos juntamos na “Cadeia de União”; mais do que uma musica interpretada a solo, fazemos parte duma grande orquestra, com coro e tudo, afinada em uníssono e fazendo-se ouvir pelos acordes escritos em partituras douradas (leia-se Rituais…), não na cor mas na dimensão, projectando a nossa música para fora de nós, e acreditando que se as estrelas da Abóbada Celeste cintilam é para assim nos darem a reconhecer o seu aplauso e o seu contentamento pela nossa obra.
E quanto mais forte for a nossa união, maior se torna a cadeia iniciática. Em última análise, essa corrente energética é um ‘acelerador de intenções’ cujas partículas espirituais, ao colidir como fazem as do CERN em Genebra, libertam uma imensurável energia, potenciada por sermos todos iguais e diferentes ao mesmo tempo, enriquecendo e potenciando espiritualmente o nosso ‘império em rede’, tornando-nos cada vez mais aptos para, com o nosso exemplo no mundo profano, ajudarmos a separar o trigo do joio , o essencial do trivial, o justo do imperfeito, acrescentando e valorizando o Ser face ao Ter.
Que assim seja!
LVB, MM, GO das ARTES