O Ritual distingue o ordinário do extraordinário. Esta frase, referida por um nosso Querido Irmão no nosso canal de comunicação, oferece-se a nós como um repto latente, pela enorme carga simbólica que traz a si associada. Tentei lançar este repto que a mim, de forma não intencional era lançado, a não ser por mim e a mim próprio, em última análise, e resolvi trazer até vós as minhas considerações, as quais não são as de um sábio ou conhecedor, mas sim, tão à mão do mais recente iniciado no nosso seio, apenas por pensar, e esta é a minha forma de o fazer.
Poderia tentar (perdoem-me o termo) “dourar a pílula” com definições extraídas dos mais poeirentos, empedernidos e cheios de sabedoria livros de uma qualquer estante de saber, abandonada numa biblioteca ao alcance de quem quer perder uns minutos a fazer uma pesquisa, mas resolvi trazer-vos exactamente aquilo que eu penso sobre o assunto, com um pequeno senão, que passo a transcrever: Quão admirável é a tradição segundo a qual as palavras do nosso ritual hão-de repetir-se sem nada acrescentar, omitir ou alterar, porque a maioria das frases foram redigidas de forma tão perfeita que qualquer variação quebraria a sua sonoridade e corromperia o seu significado[1]. Arthur Edward Powell
Apesar do que foi escrito por Arthur Powell, o qual em parcas palavras diz exactamente tudo o que há a dizer, arrisco-me a ir mais além e dissecar o que nos trouxe até aqui: Ritual.
O Ritual é, para mim, uma sistematização de acções e palavras por forma a conferir mais dignidade ao acto ou cerimónia que o mesmo rege, deixando de parte o acaso, que amiúde é inimigo de quem participa no cerimonial, por estar exposto a perder o sentido do que fazer, quando se dá largas à sua imaginação. Desta forma, tudo foi devidamente pensado, de modo a poder dar resposta a todas as questões que se poderiam colocar durante o cerimonial.
Ora, como somos Maçons e esta pretende ser uma Prancha de cariz maçónico, importa aqui relembrar os Meus Queridos Irmãos da distinção entre Rito e Ritual, agora em definição: O Ritual[2] surge-nos como um Manual que contém os rituais e as lendas de cada grau, com que cada Loja trabalha, que se expressa num conjunto de actos e práticas próprias destinadas a cerimónias maçónicas, enquanto que o Rito[3] é um conjunto de graus maçónicos, formando um todo coerente para designar um Rito Particular da Maçonaria, ou seja, um conjunto de rituais, um por cada grau ou cerimónia específica dentro do Rito.
Assim, um Rito é um conjunto de Rituais. Acho que não subsistem quaisquer dúvidas quanto a estes conceitos.
Voltando ao início, temos como Ordinário, tudo o que está dentro da ordem natural das coisas, normal, costumeiro, habitual, comum, que não se distingue dos demais, que não apresenta particularidade notável, e Extraordinário, tudo o que não é conforme ao ordinário ou ao costume, que acontece raras vezes, excepcional, raro, estupendo e em última análise, sublime.
O Ritual, pela selecção que é feita do que, de entre o que é normal, pela sua excelência passa a ser supra normal, vai ao nosso léxico buscar uma selecção de palavras que todas elas estão acessíveis a todos nós, (quanto mais não seja nos dicionários, por nãos as utilizarmos diariamente), e agrupa-as por forma a transmitir uma mensagem extraordinária através da utilização de palavras ordinárias, no sentido de normais. A mesma analogia poderemos estabelecer para acções, por reunirmos um conjunto de acções com significado mais profundo do que o do próprio momento vivido enquanto as mesmas acontecem, agarramos em algo comum e transformamos em extraordinário.
Meus Muito Queridos Irmãos, a Sessão Maçónica decorre a coberto de profanos e é mais que o conjunto dos Irmãos presentes na mesma, é mais, muito mais do que a simbologia inerente ao grau em que se trabalha em sessão. A sessão decorre num outro tempo que não o tempo em que estávamos antes do início dos trabalhos e num outro espaço, que não o espaço físico onde poderemos encontrar o edifício do templo. Algo de muito importante se processa durante a sessão, conduzida milimetricamente pelas Luzes da Loja, com o Ritual: Existe a mágica transformação, por força da combinação de todas as energias dos Irmãos, do Profano em Sagrado.
Assim, Meus Muito Queridos Irmãos, permitam-me concluir afirmando que o Ritual transmuta o que é Profano em Sagrado.
[1] Arthur Edward Powell- A Magia da Franco-Maçonaria
[2] Dicionário de Termos Maçónicos, Pedro Manuel Pereira, Editora Sete Caminhos
[3] Dicionário de Termos Maçónicos, Pedro Manuel Pereira, Editora Sete Caminhos