O Palácio Pátria / Freguesia do Beato (continuação)

Na continuação da descrição do local da freguesia do Beato, iniciado no Boletim Inaugural, com o objetivo de facilitar uma melhor identificação do território onde nos implantamos, seja permitido mais algumas referências do património local:

Pátios e vilas-Como se referiu foi a partir de meados do seculo XIX que se foram moldando os espaços ribeirinhos, adaptando-os a novas funções, derivadas do processo de industrialização e consequentemente, da concentração de milhares de novos residentes. Esses residentes ocupavam pátios e outros espaços obsoletos do edificado existente, nomeadamente velhos palácios (como por exemplo o Pátio do Colégio, no antigo palácio do Marquês de Abrantes do séc. XVII) e logradouros de prédios de habitação, com a construção de pequenas células habitacionais. Em função das más condições e dos protestos que então se geraram, em consequência da falta de resposta estatal, surge a VILA, construída com melhor planeamento que o PÁTIO.

As últimas quatro décadas marcam, contudo, o final desse processo de industrialização, com a desactivação e o abandono de diversas unidades.

Com efeito grandes unidades produtivas com força motriz a carvão na primeira metade do seculo XX (com as suas grandes chaminés de tijolo), vão coexistir com grandes entrepostos comerciais, (Abel Pereira da Fonseca, José Domingues Barreiro) a par da dinâmica actividade portuária. Nos finais da década de quarenta Portugal está em plena era industrial, com amplos complexos fabris agora movidos a energia elétrica, implantando-se alguns no velho núcleo ribeirinho. Assinalando-se a partir de 1960 a abertura da economia portuguesa ao exterior, esta dinâmica produtiva irá manter-se até ao ano de 1973, configurando está época, um período de significativo crescimento económico. Compreende-se assim como o Beato (e Marvila) configurando um máximo de concentração urbana, apresentem uma marca urbanística permanente representada pelo Pátio e pela Vila, a par de alguma arquitectura informal (“bairro de lata”). Esta população residente caracteriza-se por fortes relações de vizinhança, estabelecimento de redes de sociabilidade típicas da comunidade e da solidariedade mecânica do grupo primário, combatendo o isolamento urbano e com forte investimento nos processos afetivos, função igualmente não apenas dos laços de parentesco, mas do forte enraizamento e d longo tempo de ocupação do espaço, conferindo um caracter único à vivencia humana que ali se verifica. O coração destes Pátios e Vilas é o pátio interior, espécie de grande terreiro comunitário, que funcionava (e funciona ainda?) como extensão pública da exiguidade do espaço da habitação privada. De resto isso ainda hoje é observável, por exemplo, nos chamados “bairros típicos” de Lisboa.

-No final da década de oitenta o quadro acima descrito, altera-se com a terciarização económica, o encerramento de muitas unidades e uma emigração de parte das novas gerações de residentes. Acrescente-se que a continuidade precedente de actividade agrícola que se regista desde tempos antigos, ainda continuou paralelamente à industrialização, abastecendo a cidade de Lisboa, com produtos hortícolas. Paralelamente algumas ações de realojamento na zona, aconteceram no decorrer das décadas de oitenta e noventa dando origem aos bairros do Condado, do Amador, da Flamenga, dos Alfinetes, do Marquês de Abrantes e das Salgadas

-Será talvez importante referir que em resultado da fusão de três modestos clubes (Marvilense, Fósforos e Chelas) surgiu o CLUBE ORIENTAL de LISBOA (Marvila), com um papel muito importante na construção de identidades e que nesta Zona, arrastava como prosélitos entusiasmados, grande parte dos habitantes da zona oriental, acompanhando-o na sua deslocação.

Hoje, existe intenção de reabilitar tais espaços já que estes, são entendidos como revalorizáveis pelas vivências e memórias que representam, podendo serem compagináveis com a necessidade de obtenção de zonas de arrendamento acessível, nomeadamente, para jovens, dando assim inicio a uma renovação do processo identitário., apesar das antigas gerações ainda hoje não terem perdido a antiga identidade agrícola e industrial.

-Decorria o ano de 1854, quando se fundou a Fábrica der Fiação de Xabregas (constituindo-se em Fábrica de Tecidos de Algodões em 1858) cujos proprietários estrangeiros, imbuídos de atitudes filantrópicas, decidiram mandar edificar entre 1867 e 1877, as primeiras vilas operárias em Xabregas.  Em 1888 consonância, nasceriam mais duas vilas operarias de maiores dimensões- a vila Flamiano destinada ao alojamento de Mestres e Contramestres e a Vila Dias para operários. Na totalidade o bairro operário da Fábrica de Tecido de Algodões compunha-se de 106 habitações. Outras Vilas e Pátios, entretanto, foram sendo construídos entre as quais: O Pátio do Black; a Vila Maria Luísa que em 1933, já contava com equipamento publico (escola, mercado, balneário) e infraestruturas de abastecimento de água e de saneamento básico); Pátio Marialva; Pátio do Colégio; Pátio da Matinha; Pátio do Beirão, Vila Santos Lima; Vila Emília.

Vila Flamiano, constitui uma das vilas operárias mais conhecidas de lisboa, constituindo um paradigma dos processos de alojamento dos trabalhadores no contexto da industrialização da zona na segunda metade do século XIX. Costuma ser associada à empresa fundadora (Companhia do Fabrico de Algodão de Xabregas). No entanto a sua construção (1887/1888) poderá ser atribuída à acção de fomento da Fábrica da Samaritana.  Representou um projecto inovador para a época em função dos cuidados de saneamento, então inusitados nesse tempo. Parav além disso o projecto do bairro, situados em terrenos da fábrica, de autoria do Engenheiro António Teixeira Júdice, previa um amplo espaço de logradouro publico.

Vila Dias- implementada nos finais do seculo XIX (1888), para alojar os operários e suas famílias que laboravam no caminho de ferro recentemente inaugurado, bem como nas diversas industrias que operavam no Beato/Xabregas, sobretudo nas grandes fábricas de fiação entre as quais a Fábrica de Fiação de Xabregas.

Do património edificado erudito, com interesse histórico e arquitectónico, ao qual já aludimos acima, será de realçar:

Convento das Grilas foi um antigo convento de freiras da Ordem dos Agostinhos Descalços, que se situava, em frente ao Recolhimento do Grilo e da Igreja paroquial de São Bartolomeu. Fundado por Dª Luísa de Gusmão em 21 de Abril de 1664, foi extinto após a morte da última freira em Março de 1885, após o qual, no decorrer de 1889, abrigou as instalações da Padaria da Manutenção militar, que ocupou toda a cerca e procedendo à demolição da totalidade do complexo religioso.

-Já anteriormente, a partir da década de 1850, foi um dos conventos a ter a sua cerca amputada, pela construção do primeiro troço do caminho de ferro, construído em Portugal (inaugurado em junho de 1856), nomeadamente, o espaço da cerca situado a norte dessa via. O inventário e outras descrições do conteúdo revelam a existência de bons materiais, nomeadamente mármores, bem como obras de interesse, em termos artísticos e decorativos, entre os quais, quadros a óleo com representações religiosas, azulejaria, etc. Tais elementos foram na sua maioria dispersos para diversas instituições que foram requerendo a entrega das mesmas.

Convento do Beato (Complemento informativo do Boletim inaugural) – Já se referiu que o antigo Convento de São Bento de Xabregas ou Enxobregas, teve origem no seculo XV quando a Rainha D Isabel obteve autorização para construir na ermida de São Bento, um Hospício para a Congregação dos Frades Azuis ou Loios.

No seculo XVI, Frei António da Conceição, inicia a construção do Convento a que a devoção popular por esta figura, implicou a designação de Convento do Beato. Com brevidade toda a freguesia do local de sua implantação, passou a designar-se, FREGUESIA do BEATO.  A Freguesia do Beato propriamente dita, inicialmente denominada por São Bartolomeu do Beato, foi desanexada da freguesia de Santa Maria dos Olivais em 1756.

Alguns nomes ilustres e factos notáveis encontram-se ligados à história do comento:

Frei António da Conceição teria beneficiado da amizade mutua que existia com o rei D. Sebastião e uma das consequências, foram as obras de ampliação do templo. Diversos autores referem que quando das vésperas da partida para a batalha de Alcácer Quibir, D. Sebastião ter-se-ia aconselhado com Frei António o qual lhe garantiu a vitória final. Por sua vez, o Duque de Alba recebeu a bênção de Frei António. Quando se sentiu moribundo, logo após o conhecimento do desastre de Alcácer Quibir, o Duque dirigiu-se ao convento onde viria a falecer. Também o Duque de Bragança D. Teodósio, pai de D. João I V, tinha por hábito ouvir missa e a palavra de frei António, na igreja conventual.

 -Quanto ao edificado, refiram-se os materiais predominantemente de mármores brancos que conferem ao edifício uma robustez, que permitiu resistir ao terramoto de 1755. Possuía uma notável livraria (cerca de 10 mil volumes), sendo igualmente notável a bela escadaria conventual de mármores branco e rosa, com balaustrada guarnecida de bela estatuária. Depois do sismo os restos mortais da Infanta Dª Catarina (1391-1438) filha do rei D. Duarte, vieram do Convento de Santo Elói (Largo dos Loios), que teria ficado arruinado naquele grande sismo e depositados, na capela mor do convento do Beato.

 No final do seculo XVIII, o convento abrigou o HOSPITAL REAL MILITAR e, em 1834, depois de ter sofrido grande incendio, é comprado pelo negociante João de Brito.

-A unidade fabril ali instalada foi a primeira a ter a utilização da Máquina a Vapor em Portugal e em 1849 a Rainha Da Maria I I autoriza a utilização da Marca NACIONAL nos produtos da empresa.

Em 1999 o Grupo Cerealis vocacionado para a transformação de cereais imprime uma nova dinâmica na utilização   para eventos culturais.

O Padre Francisco de Santa Maria (na obra O Céu Aberto na Terra), reporta que a capela-mor continha quatro sepulturas da família dos Condes de Linhares, tendo sido mandada erguer em 1622, por Dª Joana de Noronha, com intenção de nela igualmente ficar sepultada quando morresse. Mais tarde essas sepulturas foram profanadas tendo os ossos sido depositados numa cripta. Ainda hoje, se podem observar os respectivos epitáfios, inscritos nas paredes da capela-mor. Diz-se que um dos grandes amores ou uma das musas de Luís Vaz de Camões, Dª Violante de Andrade, Condessa de Linhares, ali jaz sepultada. Julga-se que durante uma estadia do seu marido, D. Francisco de Noronha, em França, Dª Violante terá mantido com o poeta uma relação afectiva.

 Dª Joana de Andrade, filha de Violante também apontada como um dos amores de Camões, jaz igualmente sepultada no Convento do Beato.

Convento da Madre Deus – Classificado como Monumento Nacional, foi ocupado pela Ordem dos Franciscanos Descalços. Em 1983, integrou a décima sétima Exposição Europeia de Arte Ciência e Cultura. Abriga actualmente nas suas instalações, o Museu Nacional do Azulejo, onde se podem observar, os melhores exemplos da talha barroca e a azulejaria. Para além de uma vastíssima colecção de azulejos, permite o conhecimento das diversas fases do processo produtivo, bem como a sucessão de gostos decorativos e estilísticos, que se sucederam.

Edificado em 1509 por iniciativa da rainha Dº Leonor, esposa do rei D: João II, as obras, contudo, irão prolongar-se até 1550, data da conclusão da igreja, no tempo de D. João III. Todavia sucessivas obras ao longo dos reinados de D. Pedro II, D. João V e D. José, compreendendo um longo período que vais desde os finais do seculo XVII, até meados do seculo XVIII, irão valorizar ainda mais o monumento.

Convento de São Francisco de Xabregas ou Convento de Santa Maria de Jesus, onde funciona actualmente, na antiga igreja, o teatro Ibérico e a Mediateca de Formação Profissional, foi convento da Ordem dos Franciscanos, no lugar onde terá existido um antigo Paço Real (ou residência campestre) onde D. Afonso III e os monarcas que se seguiram, passavam largas temporadas. No seculo XIV era um lugar tranquilo, idílico, relativamente isolado e abrigado do vento norte. Na parte fronteira, existia um extenso areal, formando uma bela praia do rio Tejo. Em 1373, no reinado de D. Fernando, os castelhanos estabelecendo o cerco a Lisboa, incendiaram grande numero de propriedades incluindo o Paço Real. Em 1455 o rei Afonso V, doou o arruinado palácio a Dª Guiomar de Castro, a qual iniciou as obras que levariam à edificação do Convento de Santa Maria de Jesus. Concluindo-se as obras em 1460, foi entregue à Ordem Franciscana, passando a ser conhecido como Convento de São Francisco de Xabregas. Numa descrição de 1551, pode-se ler que” …o mosteiro esta fora dos muros …um terço de légua…é de frades menores de observância e há nele cinquenta frades. Tem algumas capelas, uma de invocação de reis, sepulturas de muitas pessoas nobres, na qual os padres tem algumas obrigações de missar…”.

O arquitecto João Nunes Tinoco, assina o projecto das obras na igreja e no claustro.

– A destruição que e verificou após o terramoto de 1755, levou à ampliação do convento, ostentando uma fachada monumental, com um pórtico encimado pelo brasão de armas do rei D. José I e que ainda hoje se conserva. Com a extinção das ordens religiosas em 1834, foi o edifício ocupado pelo regimento de Infantaria nº 1. Em 1838, o convento foi arrendado à Companhia de Fiação e Tecidos de Algodão Lisbonense, até que em 1844, um grande incendio destruiu o edifício escapando somente a igreja. Procedendo-se à reconstrução, instalou-se a Fábrica de Tabacos Lisbonense, mais tarde, Companhia Portuguesa de Tabacos, ocupando as instalações ao longo de boa parte do século XX. Em 1980, o espaço da antiga igreja foi destinado à Companhia Teatro Ibérico e em 1991, nas dependências conventuais contiguas, o Instituto do Emprego e da Formação Profissional (IEFP).

Teatro Ibérico (Centro Cultural de Pesquisa e Arte), cuja porta de ingresso se implanta na fachada da antiga igreja barroca conventual, foi criado por José Blanco Gil, beneficiando de instalações cedidas pelo IEFP- Este teatro tem características únicas já que aproveita a magnifica acústica e da arquitectura religiosa.

Viaduto ferroviário ou Ponte de Ferro de Xabregas, é uma infraestrutura da linha do Norte, cuja construção foi projectada por Jonh Sutherland.  A ponte é sustentada duas secções; uma de arcaria de pedra e a outra em vigas metálicas que foram substituídas em 1954. A sua implementação teve consequências importantes na alteração da lógica de ocupação subsequente do espaço paisagístico e edificado.

-Palácio de D. Gastão de Sousa Coutinho ou dos Senhores das Ilhas Desertas, situava-se no local, onde no seculo XX passou a funcionar a escola primária nº 20. Em 1640 a zona do Beato/Xabregas era um dos locais mais activos na conspiração contra a ocupação Filipina. Um dos fidalgos conspiradores mais empenhados (em sintonia com o seu vizinho D. Vasco de Menezes do Palácio dos Melos ou dos marqueses de Olhão), era D. Gastão de Sousa Coutinho, cujo palácio se situava junto à calçada, que ainda hoje ostenta o seu nome (Calçada de Dom Gastão). Este fidalgo, em 1644 teria mandado edificar junto ao palácio, uma ermida dedicada a Nossa Senhora do Rosário da Restauração, da qual não restam hoje, quaisquer vestígios. Esta Ermida, cujo total desaparecimento, constitui hoje verdadeiro enigma, foi instituída por D. Gastão Coutinho, em função de cumprimento de um voto a Nossa Senhora do Rosário, pelo sucesso da Restauração da Independência Nacional. A imagem foi trazida da fortaleza de Cascais (a fortaleza foi ocupada por forças comandadas por aquele fidalgo) e após diversas peripécias (cujo relato não exclui factos miraculosos), foi depositada na Ermida do Grilo, no dia de São João Baptista, no ano de 1643. No ano de 1652, D. Gastão e a mulher, Dª Isabel Ferraz, dispuseram em seus testamentos, a vontade de nela serem sepultados, bem á vista da imagem da Santa, desejo que foi cumprido por um sobrinho, que para o efeito mandou lavrar dois magníficos túmulos de mármore. Infelizmente após a demolição da Capela tais túmulos, bem como a imagem desapareceram enigmaticamente, não havendo notícia do seu paradeiro-

Existia igualmente um cais privativo – designado, cais dos Senhores das Ilhas Desertas-situado na rua da Manutenção, de que restam alguns vestígios.  Nesta zoa existiram diversos cais de acostagem, uns públicos outros privados, servindo as diversas casas, dispostas ao longo do rio.

-Palácio dos Marqueses de Olhão ou dos Melos ou dos Melos da Cunha, classificado como Monumento Nacional desde 1987, data do seculo XVI, tendo sido seu primeiro proprietário, o grande navegador e primeiro Vice-Rei da Índia, D. Tristão da Cunha, fidalgo da confiança de D. Manuel e de D. João III. Mais tarde ainda no tempo de D. João III, o palácio entrou na propriedade de D. Jorge de Melo. Beneficiando de grandes remodelações, sobre o núcleo da casa quinhentista, na primeira metade do seculo XVIII, encetadas por, D. Pedro da Cunha, 2º conde de Castro Marim (e primeiro marquês de Olhão, e que resistindo ao terramoto de 1755, mantém a configuração que hoje ainda se regista. Apresenta portal brasonado cm as armas dos Cunhas. Dispões no seu interior de salas de grande aparato, bem como de património azulejar dos seculos XVII e XVIII, salão de entrada com tectos apainelados, bem como quadros a óleo de alguns proprietários, frescos e pinturas que decoram diversas salas.

Foi neste palácio, que em 1640 pertencia a D. Vasco de Meneses, que um grupo de fidalgos conspirou para levar a efeito a RESTAURAÇÃO da Independência Nacional, terminando com o domínio Filipino.

No interior do palácio são visíveis, paredes grossas e maciças e corredores abobadados típicos da arquitectura seiscentista, a par de uma sobreposição de outros estilos.

Actualmente disponibiliza serviços de apoio à realização de diversos eventos, com o mérito de não descaracterizar uma residência nobre que se mantém na mesma família desde há 500 anos.

Palácio dos Marqueses de Niza, edifício de fachada de feição neoclássica, foi construído em terrenos pertencentes ao paço real de Enxobregas do séc. XVI. Fundado em 1543, por D. Francisco da Câmara, segundo conde da Vidigueira, passou por diversos proprietários, entre os quais os descendentes de Vasco da Gama.

Doado por Dª Luísa de Gusmão á condessa de Unhão, integra-se por via do matrimónio nas Casas de Niza e Vidigueira., regressou à posse dos Marqueses de Nisa em 1672. O edifício ficou bastante desfigurado após 1755 e igualmente pelas diversas intervenções de que foi objecto ao longo do tempo.

O Edifício, (ostentando na fachada principal um portal nobre e na fachada lateral o brasão do rei D. Luís), foi objecto de grandes alterações na segunda metade do seculo XVIII. No ano de 1867 foi adquirido pelo Estado, por iniciativa de Dª Maria I, tendo sido destinado para casa de recolhimento e de correcção de menores, passando a designar-se Asilo Dº Maria Pia.

Em 1926, foi vendido à Misericórdia de Lisboa e desde 1941, constitui uma secção da Casa Pia de Lisboa.

Um dos ilustres proprietários foi D. Vasco Luís da Gama (1612-1676), 5º Conde da Vidigueira, Senhor da Vila de Frades e Trevões, tendo sido um dos grandes fidalgos do reino a tomar partido pelo Duque de Bragança (futuro D. João IV), na Restauração de Portugal. Exerceu os altos cargos de Almirante do Mar das Índias e embaixador em França de 1642 a 1649, influenciando o apoio a Portugal por parte do ministro francês, cardeal Mazarino. Deputado da Junta dos Três Estados, membro do Conselho de Estado e da Guerra, desempenhou, em 1668, o papel de negociador plenipotenciário no tratado de paz com a Espanha. Igualmente exerceu as funções de Vedor da Fazenda e Estribeiro Mor da Rainha dª Francisca.

Nos finais do seculo XIX, até meados do seculo XX, estabeleceu-se defronte do palácio, um mercado a céu aberto de venda de produtos alimentares, com a curiosidade de no tempo da Segunda Guerra Mundial, ter-se chegado a vender carne de baleia, num entreposto especial destinado para o efeito.

-Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca constitui paradigma notável das grandes casas comerciais do início do seculo XX, especialmente marcante na zona do Beato/Poço do Bispo. A sua origem deve-se à actividade empresarial de Abel Pereira da Fonseca, grande agricultor, proprietário de vastas vinhas na zona do Bombarral, Cadaval, Torres Novas e Alenquer. Fundador da Companhia Agrícola da Sanguinhal, no Bombarral, com o objectivo de implementar melhorias na gestão. Em conformidade criou uma estrutura comercial com a fundação da casa Abel Pereira da Fonseca & Cª, com armazéns na rua da Manutenção do Estado em Xabregas. (19067/1907), passando depois para a rua do Amorim em 1910.

Em 1917 procedeu-se, sob risco do arquitecto Norte Júnior, à construção um novo e notável edifício de armazém, na Praça David Leandro da Silva a Marvila, com integração na fachada de elementos inspirados na Arte Nova, e que se mantem até à actualidade. No seu interior para além da zona de armazenagem de pipas e um conjunto de cento e setenta enormes cubas (com capacidade para mais de 120 milhões de litros), integrou outras áreas destinadas à administração, escritórios e laboratório.

Como curiosidade, fica a informação de que num texto da Companhia Agrícola do Sanguinhal, pode ler-se «… era comum Fernando Pessoa, enquanto se encontrava a trabalhar levantar-se, pegar no chapéu, ajeitar os óculos e ir até ao “Abel” … as idas ao “Abel” eram, nada mais, nada menos que uma ida ao depósito mais próximo da Casa Abel Pereira da Fonseca para tomar um cálice de aguardente…» (testemunho de um colega de trabalho do poeta, Luís Pedro Moitinho de Almeida).

Em 1993, a empresa cessou a sua actividade e em 1998, a Câmara Municipal de Lisboa, ocupou as instalações, para actividades de animação cultural no contexto da “Expi-98” (música ao vivo, exposições de arte, mostra gastronómica, passagem e modelos, etc.). Nos tempos actuais ali, funciona um minimercado e uma “tasquinha”.

O património edificado mostra-se deveras interessante, afirmando no logotipo da fachada a sua afirmação identitária com o Rio Tejo, representando a tradicional fragata em que se transportava o vinho por via fluvial. Entrado em gradual estado de degradação, foi o edifício recuperado no âmbito do projecto “Caminhos do Oriente, da autoria de Sarmento de Matos, integrado na “Expo-98”.

-A finalizar esta breve incursão sobre a zona onde nos implantamos, ao deve silenciar-se a alusão à vida de sociabilidade intensa dos pátios e vilas, os bailes, as festas populares, (Flamiano, Dias e muitas mais) , os lavadouros público, os fontanários tristemente secos, as actividades desportivas, lúdicas e de recreio desenvolvidas nomeadamente à volta das tascas, as bandas de música e outras instituições de apoio social e educativas, etc. e que ainda hoje povoam persistentemente a memória dos residentes.

Outro património relevante existente na zona, refere-se a diversos palacetes e vestígio de quintas agrícolas, circundando o território da freguesia, podendo servir de exemplo o chalé da Quinta das Pintoras e a Casa de S. Vicente (actualmente sede de uma IPSS):

-Quinta das Pintoras, é um palacete de características urbanas do seculo XIX, integrado numa quinta, na Estrada de Marvila/ Azinhaga da Bruxa, num local onde ainda se observa um casario de pequenas dimensões e quinta agrícolas e de recreio. Interessantes os painéis de azulejos monocromos, figurativos, do seculo XIX., no primeiro andar.

-A Casa de São Vicente dos finais do seculo XVII, integrando uma antiga quinta (das Veigas) mantem desde 1940, uma estrutura de apoio social, estabelecida pela acção da Condessa de Mafra (Dª Maria Antónia de Mello Breyner). Encontra-se hoje algo deteriorada.

Saudações,
Fernando Casqueira
R:.I:. G:.P:.B:. / V:.M:.